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Sem medida do governo, Prysmian prevê fechar fábrica de fibra óptica em julho

Sem apoio do governo contra exportações chinesas, Prysmian deve fechar fábrica de fibra em julho
Fábrica de fibra óptica da Prysmian, em Sorocaba, no interior de São Paulo (crédito: Divulgação/Prysmian)

A Prysmian estabeleceu uma data-limite para decidir o futuro da sua fábrica de fibra óptica em Sorocaba, no interior de São Paulo. Caso o governo brasileiro não tome uma ação contra os preços praticados por empresas exportadoras chinesas, a planta será fechada em julho deste ano.

O eventual encerramento das operações deve afetar cerca de 150 empregados diretos, além da cadeia de produção de fibra e cabos ópticos no País, o que gera preocupações em clientes da empresa (saiba mais abaixo).

Acontece que a fábrica da Prysmian é a única em toda a América Latina – e uma das poucas no mundo – que faz todo o processo de produção da fibra, incluindo a fabricação de tubos de pré-forma. O material, em seguida, passa pela etapa de estiramento (também chamado de puxamento), que, no Brasil, é feito pela Prysmian e por outras empresas. Por fim, o processo é concluído com a fabricação dos cabos ópticos.

O problema da fabricante italiana é o preço da fibra chinesa. Atualmente, um quilômetro de fibra importada da China tem o preço de cerca de US$ 2,50, enquanto o custo de produção no Brasil é de US$ 6.

A Prysmian alega que a China subsidia os fornecedores locais, que enfrentam restrições às exportações em várias partes do mundo. Nos Estados Unidos, componentes chineses não entram. A União Europeia (UE) e o Reino Unido implementaram medidas antidumping, enquanto o México elevou, em abril, a alíquota do Imposto de Importação (II) para 35%. Com isso, o estoque elevado é direcionado a mercados abertos à indústria chinesa, como a América Latina.

“Estamos tendo prejuízos milionários desde o último semestre do ano passado e a situação vem piorando”, diz Emerson Tonon, CEO da Prysmian no Brasil. “A diferença [de preço] era de 40%, mas agora chega a 60%”, acrescenta.

Reinvindicações

Para manter a fábrica em operação, a Prysmian pleiteia medidas antidumping junto ao governo federal. Uma solicitação, apresentada ao lado de outras fabricantes de cabos ópticos, foi inicialmente rejeitada pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) por inconsistências técnicas, mas uma versão revisada do pedido de defesa da produção local segue pendente de análise.

No entanto, dado o curto período até o prazo previsto para fechamento da fábrica, em julho, a empresa também tem solicitado medidas mais ligeiras, como um decreto que eleve o imposto de importação da fibra óptica, por meio da Lebit (Lista de Exceções de Bens de Informática e Telecomunicações). Por dificuldades concorrenciais, a planta, inclusive, já ficou fechada entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano. Agora, opera com um terço da capacidade.

“Não estamos pedindo proteção para a indústria brasileira. Não temos medo das importações. O problema está na China. A nossa fábrica é competitiva mundialmente, mas não é competitiva contra práticas anticompetitivas. Queremos que o campo de jogo seja o mesmo para todos”, afirma Raul Gil Boronat, CEO Latam da Prysmian.

Neste ano, o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP), ex-prefeito de Sorocaba, tem participado das tratativas com o governo. O parlamentar já teve uma conversa preliminar com o vice-presidente e chefe do MDIC, Geraldo Alckmin, além de uma reunião formal com o secretário executivo da pasta, Márcio Elias Rosa.

Ao Tele.Síntese, o gabinete do deputado informou que o próximo passo deve ser uma reunião formal de Lippi com Alckmin sobre o assunto, mas ainda não há data definida. O objetivo é demonstrar os eventuais prejuízos do fechamento da fábrica para a economia do País.

Preocupações da cadeia de produção

Demandante dos tubos de pré-forma, a Furukawa é o cliente que mantém a fábrica da Prysmian em operação, ainda que em capacidade reduzida. A companhia japonesa, que no Brasil faz o estiramento e a fabricação de cabos ópticos, indica que o eventual encerramento das operações da planta de pré-forma da empresa italiana põe em risco a continuidade da cadeia de produção nacional de fibra óptica.

A Furukawa tem uma fábrica de estiramento em Sorocaba, a cerca de 7 km da planta da Prysmian. A instalação trabalha com os tubos de pré-forma produzidos no País. Em seguida, a fibra é enviada para Curitiba e Buenos Aires, onde a companhia produz os cabos ópticos. Sem a pré-forma brasileira, a planta de estiramento, como consequência, pode ter de fechar.

“Estamos extremamente preocupados, porque não é só fechar a fábrica de fibra. Do jeito que está indo, se trata de fechar a indústria nacional de fibra óptica e de produtos ópticos, a qual o Brasil foi pioneiro nas décadas de 1970 e 1980. Um dos poucos países do mundo que tem essa tecnologia local”, afirma Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa Latam.

Segundo o executivo, fábricas de pré-forma são poucas no planeta. Além do Brasil, estão nos Estados Unidos, China, Índia, França, Dinamarca e Japão. Ele diz que, juntas, as plantas da Furukawa e da Prysmian conseguem atender 70% da demanda nacional de fibra óptica.

“Se perder o bastão [de pré-forma] e o puxamento, daqui a pouco [o Pais] vai importar fibra diretamente e perder a indústria de cabos ópticos como um todo”, sinaliza.

Distanciamento do setor de telecom

Tanto a Prysmian quanto a Furukawa disseram que o setor de telecomunicações não tem se envolvido nas discussões sobre o destino da fábrica de fibra óptica no Brasil. As fabricantes alegam que operadoras e provedores costumam tomar decisões com base nos preços dos insumos, o que, neste momento, favorece a produção chinesa.

Contudo, argumentam que o fim da produção local de pré-forma pode, no futuro, impactar teles e prestadores de banda larga. “Em alguns anos, a China vai começar a demandar muita fibra para as redes 6G. Na hora que isso acontecer, o mercado chinês vira prioridade e os fornecedores vão deixar de exportar para o mundo inteiro”, avalia Shaikhzadeh.

Boronat, CEO Latam da Prysmian, lembra que as infraestruturas de telecomunicações têm sido tratadas como ativos estratégicos por governos ao redor do mundo. “Se pensarmos que as telecomunicações são um tema estratégico, depender 100% da China é um risco que nenhum país deveria tomar”, frisa.

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